Plataforma de Apoio a Gestão Estratégica - PAGE/UCB

Projeto: Intervenções com idosos: demandas por psicoterapia e possibilidades de inovação no tratamento
Coordenador(a): EDUARDA REZENDE FREITAS
Vigência: 01/12/2022 a 06/01/2026
Situação: Ativo
Programa/Curso: Gerontologia - Stricto Sensu
Agência: Fundação de Apoio a Pesquisa do Distrito Federal
Edital: FAPDF 09/2022 - Demanda Espontânea
Chamada Chamada Única
Resumo:
Resumo
O acelerado envelhecimento populacional brasileiro é uma realidade inevitável. Aliado a outros fenômenos macrossociais, ele aumentará a demanda por serviços públicos e privados em saúde para idosos, incluindo psicoterapia. Consequentemente, psicólogos precisam estar preparados para atuar com essa coorte etária, sobretudo em casos de depressão, principal transtorno psiquiátrico na velhice. Assim, esta pesquisa tem como objetivos: 1) traçar o perfil e a demanda de idosos que buscam por atendimento em saúde mental em uma clínica escola de psicoterapia em Brasília; 2) analisar os efeitos de quatro tipos de intervenções psicológicas positivas online e autoadministradas nos sintomas depressivos e no bem-estar de idosos; e 3) avaliar os efeitos de uma intervenção grupal positiva – focada em Esperança, Perdão, Curiosidade, Vitalidade e Amor – nos sintomas depressivos e no bem-estar de idosos ambulatoriais. Para tanto, este estudo será dividido em três etapas. A primeira será transversal e documental, elaborada a partir dos prontuários de pacientes idosos atendidos nos últimos cinco anos, na clínica escola de uma Universidade do DF. As outras duas serão estudos longitudinais e quase-experimentais, em que participarão pessoas com 60 anos ou mais, residentes no DF ou entorno. Em uma delas a amostra será composta por 80 idosos que, após se inscreverem para participar, serão aleatoriamente designados a uma de quatro intervenções positivas. Elas serão realizadas de forma autoadministrada, individual e online. Em outra, a amostra será formada por idosos ambulatoriais com a presença de sintomas depressivos. Nesta etapa os idosos comporão o grupo experimental (dois grupos, com 15 participantes cada) ou o grupo controle (composto por 30 idosos que não participarão de qualquer intervenção psicológica). Todos responderão ao pré e pós-teste. Os dados serão tratados qualitativamente (Etapa 1) por meio de análise de conteúdo temática e quantitativamente por meio de estatística descritiva e inferencial. Além dos resultados diretos da pesquisa, que serão publicados na forma de artigos, espera-se contribuir para o conhecimento de profissionais da saúde, sobretudo do DF, sobre os perfis e as demandas de idosos que fazem psicoterapia, bem como para o aperfeiçoamento de programas de ensino em psicologia e áreas afins para que se tornem mais coerentes com a realidade atual de envelhecimento populacional. Ademais, este estudo permitirá que se conheça como idosos lidam com intervenções positivas online e autoadministradas ou grupais e presenciais, bem como seus impactos em sintomas depressivos e no bem-estar. Tais conhecimentos colaborarão sobremaneira para o planejamento e desenvolvimento de ações em saúde, sobretudo mental, para idosos do DF contribuindo, portanto, para um envelhecimento mais ativo e positivo.
Palavras-chave: Saúde do idoso, Depressão, Psicologia Positiva, Bem-estar.

Introdução com os principais objetivos e hipóteses que nortearão o projeto
A distribuição etária da população mundial vem sendo alterada. O que se observa, atualmente, é um rápido aumento no número de idosos (IBGE, 2019). No Brasil, cerca de 13,5% da população é composta por pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, correspondendo a mais de 28 milhões de idosos (IBGE, 2020).
De acordo com projeções realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos tende a crescer consideravelmente nas próximas décadas, chegando a atingir, em 2043, 1/4 da população brasileira; já a proporção de indivíduos com até 14 anos será de, aproximadamente, 16,3% (IBGE, 2019). Devido às consequências socioeconômicas advindas do envelhecimento populacional, este já pode ser considerado uma importante questão social e de saúde em muitos países (ALAVI et al., 2017).
O envelhecimento é um processo natural e irreversível e não é sinônimo de doença e/ou incapacidade, porém, em comparação com grupos mais jovens, os idosos são mais suscetíveis a doenças, complicações e mortalidade (CHAIMOWICZ, 2016). Na velhice são mais frequentes as doenças crônicas (ao invés de processos agudos), como doenças cardiovasculares, respiratórias, osteomusculares, neuropsiquiátricas, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e alguns tipos de neoplasias (FELIPE; ZIMMERMANN, 2012).
As doenças crônicas e suas complicações podem impactar na capacidade funcional dos idosos, em sua qualidade de vida (FELIPE; ZIMMERMANN, 2012) e em aspectos psicológicos e emocionais. A partir disso, a necessidade de ofertar uma assistência integral, que vá além da saúde física do idoso, tem despertado cada vez mais a atenção dos pesquisadores e profissionais de saúde (ALAVI et al., 2017).
Dentre as possibilidades de intervenções não farmacológicas para idosos, encontram-se as psicoterapias. A partir da análise conduzida por Freitas e Barbosa (2021a) é possível constatar que muitas das práticas baseadas em evidências em psicoterapia com idosos fazem uso da terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou de estratégias cognitivas ou comportamentais. Em síntese, é possível afirmar que a TCC é um método terapêutico que contribui para o aumento da adaptabilidade de pessoas às suas condições crônicas de saúde e situações de vida complexas (ALAVI et al., 2017). Ao focar nas reações emocionais, cognitivas e comportamentais dos pacientes, essas intervenções os ajudam a identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos e comportamentos disfuncionais (ALAVI et al., 2017) e a regular suas emoções.
O sucesso da TCC em uma ampla gama de transtornos (p. ex., depressão e fobias) (WENZEL, 2018) sugere que seus modelos de terapia também possam ser empregados para ajudar as pessoas a aprenderem sobre suas forças e qualidades positivas (p. ex., resiliência e sabedoria) e a desenvolverem-nas (PADESKY; MOONEY, 2012). A teorização, a pesquisa e a prática em Psicologia que, historicamente, voltaram-se excessivamente para patologias, déficits, sintomas e emoções negativas, passaram a ser fortemente questionadas nos últimos anos. Isso é decorrente, sobretudo, da proposição da Psicologia Positiva (PP) no final da década de 1990. Seligman liderou este movimento que fez um apelo aos psicólogos para que também pesquisassem e aprendessem sobre os processos que contribuem para o florescimento humano, direcionando esforços para o entendimento de emoções, características psicológicas e instituições positivas (MAYERSON, 2017). Dentre elas, serão enfatizadas, nesta pesquisa, as características psicológicas positivas, especificamente os traços que constituem a personalidade positiva, isto é, as forças de caráter (FC).
FC são traços positivos que se manifestam por meio de pensamentos, sentimentos e/ou ações (PARK; PETERSON, 2010), refletindo-se, portanto, na identidade (ser e fazer) de cada indivíduo (NIEMIEC, 2017). Sua utilização tem sido relacionada ao bem-estar (SELIGMAN, 2011) e à realização pessoal (SELIGMAN et al., 2005). Ao serem utilizadas em conjunto com as experiências e habilidades pessoais, elas contribuem para a redução do sofrimento, resolução de problemas (BANNINK, 2012) e diminuição de sintomas depressivos (SCHUTTE; MALOUFF, 2018).
Peterson e Seligman (2004) propõe a existência de 24 FC, subdividas em seis virtudes. A virtude Sabedoria/Conhecimento abrange as FC Abertura a Novas Ideias, Criatividade, Curiosidade, Gosto pela Aprendizagem e Perspectiva. A Coragem inclui a Bravura, Autenticidade, Persistência e Vitalidade. A virtude Humanidade abarca o Amor, a Bondade e a Inteligência Social. A Justiça engloba a Cidadania, Integridade e Liderança. A virtude Temperança compreende a Autorregulação, a Humildade/Modéstia, o Perdão/Misericórdia e a Prudência. E a Transcendência abrange as FC Apreço pelo Belo e pela Excelência, Esperança, Espiritualidade, Gratidão e Humor.
Considerando o forte potencial das FC em promover bem-estar, melhorar relacionamentos, cultivar “culturas” fortes e solidárias (NIEMIEC, 2017) e contribuir para o desenvolvimento ótimo (SELIGMAN et al., 2005) e envelhecimento positivo (HILL; SMITH, 2015), estudar as FC de idosos, bem como desenvolver intervenções para promovê-las assumem grande importância no cenário atual, em que o número de idosos não para de aumentar. Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015) tem enfatizado a importância da criação mecanismos que apoiem e incentivem uma velhice ativa e saudável. Nesse contexto, a PP pode contribuir expressivamente, pois fornece subsídios para a promoção do envelhecimento positivo (VAILLANT, 2004).
O envelhecimento positivo tem dois propósitos principais: desenvolver e implementar estratégias a fim de promover o envelhecimento bem-sucedido (aumentando, por exemplo, as interações sociais e o engajamento na vida) e buscar condições positivas para o envelhecimento (FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, 2003). Em síntese, sua missão é acrescentar mais vida aos anos e não apenas anos à vida (VAILLANT, 2004), enfatizando a preservação do bem-estar (HILL; SMITH, 2015).
Estudos que apresentam relações entre algumas FC e construtos que remetem à velhice, ainda que escassos, já têm sido desenvolvidos. Citam-se como exemplos as relações positivas identificadas entre Gosto pela Aprendizagem e envelhecimento saudável e produtivo, entre Perspectiva/Sabedoria e envelhecimento bem-sucedido e entre Bondade, Prudência e Gratidão e longevidade (NIEMIEC, 2017).
Os resultados de grandes pesquisas transculturais (LITTMAN-OVADIA; LAVY, 2012; SEIBEL et al., 2015) que analisam todo o conjunto de FC em amostras de diversas idades já estão disponíveis. Entretanto, exclusivamente com idosos, parece que os únicos estudos desenvolvidos até o momento são os de Freitas (p. ex., FREITAS, 2019; FREITAS et al., 2021b).
Freitas (2019) conduziu uma investigação com 188 idosos brasileiros a fim de analisar as 24 FC e associá-las a variáveis demográficas, como gênero e idade, e a sintomas de depressão e bem-estar psicológico (BEP). Dentre outros resultados, a autora não encontrou diferenças entre os sexos ao comparar os escores médios de cada uma das 24 FC e somente a Autorregulação se correlacionou significativa e positivamente com a idade. No que se referem aos sintomas depressivos, correlações significativas negativas foram obtidas com Cidadania, Curiosidade, Perdão, Esperança e Humor. Já o BEP correlacionou-se positivamente com 11 FC: Humor, Curiosidade, Perdão, Esperança, Perseverança, Liderança, Humildade, Perspectiva/Sabedoria, Autorregulação, Inteligência Social e Vitalidade.
Apesar do número limitado de pesquisas de base sobre FC de idosos, propostas de intervenções que visam a sua promoção e de outros aspectos positivos nessa fase do curso de vida, ainda que escassas, têm sido desenvolvidas. Trata-se de intervenções positivas, isto é, atividades intencionais cujos objetivos são cultivar sentimentos, comportamentos e/ou cognições positivas (SIN; LYUBOMIRSKY, 2009).
As meta-análises realizadas por Bolier et al. (2013) e Sin e Lyubomirsky (2009) confirmaram que intervenções positivas são eficazes para elevar os níveis de bem-estar e minimizar sintomas depressivos. No entanto evidenciaram que a velhice é um agrupamento etário que tem sido negligenciado, pois das 51 investigações analisadas somente três foram realizadas com pessoas com 60 ou mais anos (SIN; LYUBOMIRSKY, 2009), e dos 40 artigos recuperados, apenas dois foram desenvolvidos para idosos, sendo que em apenas um, a amostra foi composta exclusivamente por essa coorte etária (BOLIER et al., 2013). Esses resultados limitam a análise a respeito da eficácia de intervenções psicológicas positivas com idosos (PROYER et al., 2014), especialmente no que se referem às FC, pois esse construto não foi considerado em nenhum dos cinco estudos com idosos.
No que se refere à desconsideração da velhice em intervenções positivas, resultado análogo foi constatado por Ghielen et al. (2018) em uma revisão da literatura de estudos quase-experimentais sobre intervenções baseadas em FC. Ainda assim, algumas intervenções positivas (p. ex., CUADRA-PERALTA et al., 2012; ESTRELA-DIAS; PAIS-RIBEIRO, 2014; FREITAS et al., 2021b; PROYER et al., 2014; RAMÍREZ et al., 2014) têm sido desenvolvidas com idosos tendo como alvo FC.
Para elevar os níveis de satisfação com a vida e minimizar sintomas depressivos de idosos da comunidade, Cuadra-Peralta et al. (2012) realizaram uma intervenção que tinha como um dos tópicos as FC. Ramírez et al. (2014) realizaram uma intervenção com idosos frequentadores de um centro dia a fim de promover, dentre outras variáveis, Gratidão e Perdão. Tendo as FC como um dos temas, Estrela-Dias e Pais-Ribeiro (2014) desenvolveram uma intervenção com idosos pós-acidente vascular cerebral (AVC) a fim de promover, dentre outros aspectos, FC e virtudes ao nível da funcionalidade nas atividades básicas de vida diária e na saúde mental e compreender seu papel na reabilitação pós-AVC. Proyer et al. (2014) analisaram os impactos de quatro tipos de intervenções online e autoadministradas no bem-estar e nos sintomas depressivos de pessoas entre 50 e 79 anos (M=55,58; SD=5,16). Apesar de este último estudo não ter sido realizado exclusivamente com idosos, ele apresenta discussões importantes sobre FC na velhice. Para promover FC, Freitas et al. (2021b) testaram uma intervenção positiva de Educação para o Caráter Baseada em Forças para Idosos (Educafi) com pessoas da comunidade. Os resultados evidenciaram que a intervenção se mostrou adequada para diminuir sintomas depressivos dos participantes, porém não promoveu FC. De modo geral, os resultados dos estudos salientados evidenciam que intervenções baseadas em PP podem ser capazes de elevar os níveis de satisfação com a vida, BEP e bem-estar subjetivo e minimizar sintomas depressivos e ansiosos de idosos.
Percebe-se, portanto, que pesquisas sobre FC têm, comumente, analisado suas relações com sintomas depressivos e bem-estar. A depressão e, particularmente, a depressão geriátrica constituem um grave problema de saúde pública. Na velhice, a presença dessa sintomatologia – ainda que não preencha os critérios diagnósticos de depressão maior dos grandes manuais de classificação, como DSM-V e CID-10 – gera uma série de prejuízos no que se refere às comorbidades, incapacidades e mortalidade (FERREIRA; BATISTONI, 2016). Em idosos da comunidade, a prevalência de sintomatologia depressiva pode chegar a 34% (ALVARENGA et al., 2012) e, em idosos institucionalizados, a 47% (VAZ; GASPAR, 2011). Perda ou diminuição da funcionalidade, desenvolvimento ou agravamento de doenças crônicas, morte de familiares, amigos e cônjuge, mudanças de papéis devido à aposentadoria ou à necessidade de tornar-se cuidador, questões relacionadas à própria finitude representam alguns dos eventos estressores vivenciados pelos idosos e que exigem habilidades de enfrentamento e adaptação (FERREIRA; BATISTONI, 2016).
O bem-estar e, mais especificamente, o BEP, é um importante preditor de envelhecimento positivo (FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, 2003; PORTER et al., 2015), pois possui correlatos biológicos que constituem fatores de proteção para a saúde na velhice (STEPTOE et al., 2012). BEP pode ser definido como o senso de satisfação consigo, da existência de um lugar no ambiente para si e de certa aceitação do que não pode ser alterado (LAWTON, 1975). Entre idosos, associa-se negativamente com depressão (LOKE et al., 2011; RYFF, 2014) e positivamente com qualidade de vida (PINAR; OZ, 2011).
Tendo, pois, em vista que (1) a depressão é o transtorno psiquiátrico mais prevalente em idosos e acarreta uma série de prejuízos, incapacidades e mortalidade (FERREIRA; BATISTONI, 2016), (2) que o BEP constitui um importante preditor de envelhecimento positivo (FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, 2003; PORTER et al., 2015) e (3) que resultados de diversas pesquisas sobre FC são bastante promissores, seja por sua relação positiva com construtos como satisfação com a vida (PARK; PETERSON, 2009), felicidade (SELIGMAN et al., 2005), bem-estar subjetivo (LITTMAN-OVADIA; LAVY, 2012) e psicológico (RIBEIRO, 2011), seja por sua relação negativa com sintomatologia depressiva (BOLIER et al., 2013), este projeto de pesquisa tem como objetivos: 1) traçar o perfil de idosos que buscam por atendimento em saúde mental em uma clínica escola de psicoterapia em Brasília; 2) analisar os efeitos de quatro tipos de intervenções online e autoadministradas (“Visita de gratidão”, “Três coisas boas”, “Três coisas engraçadas” e “Usar as principais FC de maneira nova”) no bem-estar e nos sintomas depressivos de idosos; e 3) analisar os impactos de uma intervenção positiva em grupo de idosos da comunidade que tenha como foco Esperança, Perdão, Curiosidade, Vitalidade e Amor, FC que, segundo Freitas (2019), se associam tanto a escores mais elevados de BEP quanto a níveis mais baixos de sintomas depressivos em idosos.
Serão testadas as seguintes hipóteses:
1. A maioria dos idosos que buscaram por psicoterapia são mulheres com demandas relacionadas a sintomatologia depressiva.
2. Idosos que participarem das intervenções positivas “Visita de gratidão” e “Três coisas boas” apresentarão escores mais elevados de bem-estar no pós-teste. Aqueles que participarem da intervenção “Três coisas engraçadas” terão o escore em sintomas depressivos reduzidos. Já idosos que participarem da intervenção “Usar as principais FC de maneira nova” apresentarão melhoras tanto no bem-estar quanto nos sintomas depressivos.
3. Idosos que participarem da intervenção presencial (Educafi) apresentarão níveis superiores de BEP e satisfação com a vida e inferiores de sintomas depressivos no pós-teste.
4. Idosos do grupo controle, que não passarão por qualquer tipo de intervenção, manterão os níveis dessas variáveis nos dois momentos de avaliação.

Metodologia
A fim de cumprir com os objetivos propostos, esta pesquisa será composta por três etapas. A primeira contempla um estudo transversal e documental e as outras duas pesquisas longitudinais quase-experimentais. Elas serão apresentadas detalhadamente a seguir.

Etapa 1
Trata-se de um estudo documental realizado a partir de prontuários de pacientes com 60 anos ou mais atendidos no Centro de Formação em Psicologia Aplicada (CEFPA), da Universidade Católica de Brasília (UCB), nos últimos cinco anos. Em geral, essa clínica atende pessoas de média e baixa renda, sendo o tratamento gratuito.
Em síntese, os atendimentos funcionam da seguinte forma: o paciente comparece à clínica para realizar sua inscrição, geralmente, no início de cada semestre. Nesse momento ele preenche um questionário com algumas informações pessoais, como nome, idade e sexo. Além dessas questões, há um espaço para que registre o motivo da procura pelo serviço psicológico. Posteriormente o paciente é encaminhado para início do tratamento com o(a) estagiário(a), que o acompanha pelo semestre letivo.
Além das variáveis mencionadas, isto é, demográficas e motivo da procura, serão analisados os registros feitos pelos estagiários, que se encontram anexados aos prontuários, ou seja, a ficha de evolução do caso. A análise dos dados ocorrerá por meio de estatística descritiva, frequência, porcentagem, medidas de dispersão e tendência central, e análise de conteúdo temática de Bardin (2016).

Etapa 2
Participantes
Participarão deste estudo quase-experimental aproximadamente 80 pessoas residentes no DF ou entorno, com idade igual ou superior a 60 anos. Além do aspecto etário e de residência, serão critérios de inclusão na amostra inscrever-se para participar e dispor de smartphone (notebook, tablet ou afim) e internet. Constituem critérios de exclusão: ser analfabeto digital e estar em tratamento psicológico ou psiquiátrico ou indicar o uso de psicotrópicos ou drogas ilícitas no questionário demográfico.

Instrumentos
Serão utilizados os seguintes instrumentos:
1. VIA-IS-120, versão abreviada do VIA Inventory of Strengths (VIA-IS) (VIA INSTITUTE ON CHARACTER, 2013) que contém 120 questões referentes às 24 FC (cinco itens por força). Em cada questão a pontuação varia de um (“não tem nada a ver comigo”) a cinco (“tem tudo a ver comigo”) e, dessa forma, a pontuação de cada FC varia entre cinco e 25 pontos. Os alfas de Cronbach do VIA-IS-120 (α médio=0,79) são similares aos obtidos para o VIA-IS (α médio=0,83), e a correlação média entre as escalas é de 0,93 (LITTMAN-OVADIA, 2015).
2. Philadelphia Geriatric Center Morale Scale (PGCMS) (LAWTON, 1991), escala de BEP desenvolvida para idosos. É composta por 17 itens, divididos em três fatores: Apreensão, Atitudes frente ao Próprio Envelhecimento e Insatisfação com a Solidão. A partir da soma dos três fatores, obtém-se o BEP total, cuja pontuação varia entre zero e 17. Para cada item, têm-se opções dicotômicas de respostas, como “sim” e “não”. Para que escores mais altos reflitam um maior BEP, seis itens devem ser espelhados. A versão brasileira do instrumento (PGCMS-Br) possui evidências de validade baseadas na estrutura interna e na relação com outras variáveis e boa estimativa de fidedignidade (FREITAS et al., 2016).
3. Escala de Satisfação com a Vida (ESV), desenvolvida por Diener et al. (1985) e adaptada por Gouveia et al. (2005) para o contexto brasileiro. Objetiva avaliar a satisfação com a vida por meio de cinco afirmações, as quais os participantes devem escolher entre sete opções (variando desde “discordo totalmente” – valor 1 – a “concordo totalmente” – valor 7). O escore total da ESV varia entre cinco e 35. O alfa de Cronbach da versão brasileira da ESV é de 0,89 (para mais informações ver GOUVEIA et al., 2005).
4. Escala de depressão geriátrica (GDS-15) (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999) é uma escala amplamente utilizada para detecção de sintomas depressivos para a população idosa. Contém 15 perguntas respondidas com “sim” ou “não” e pontuação variando entre zero (ausente) e um (presente). Idosos que obtiverem mais de cinco pontos têm indicativo de depressão. O alfa de Cronbach desse instrumento é de 0,81. Informações a respeito da consistência interna, validade e confiabilidade teste-reteste podem ser obtidas em Almeida e Almeida (1999).
Além desses instrumentos, serão utilizados Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), elaborados com base nas Resoluções 466/12 e 510/16, e um questionário para caracterização da amostra. Este contém questões referentes a variáveis demográficas e de saúde (p. ex., idade, escolaridade, situação conjugal, se faz acompanhamento psicológico ou psiquiátrico etc.).

Procedimento
A Etapa 2 deste estudo será divulgada em redes sociais (Facebook, WhatsApp etc.), onde idosos do DF ou entorno que desejarem participar precisarão se inscrever. Após o registro, os participantes responderão aos instrumentos mencionados na seção anterior (pré-teste) na plataforma iGESTO. Aqueles que cumprirem com os critérios de inclusão e não exclusão no estudo, receberão instruções para participarem de uma das intervenções possíveis durante uma semana. Eles serão aleatoriamente designados (através de um gerador automatizado de números aleatórios) para uma de quatro intervenções positivas: “Visita de gratidão”, “Três coisas boas”, “Três coisas engraçadas” ou “Usar as principais FC de maneira nova” (Figura 1). Cada uma contará com 20 participantes, será autoadministrada e online.
Esclarece-se que essa proposta de intervenção tem como base os estudos de Seligman et al. (2005), com norte-americanos majoritariamente adultos, e de Proyer et al. (2014), com suíços na maturidade tardia ou velhice. Por não haver antecedentes na literatura desse tipo de investigação em contexto nacional, sobretudo com idosos, esta pesquisa configura-se como um piloto, em que há chances de ampliar o tamanho amostral.
Após a intervenção, os idosos serão notificados por e-mail para retornarem ao link da pesquisa para completar as avaliações de acompanhamento (isto é, realizarão o pós-teste). Nesse momento também será perguntado aos participantes se fizeram a intervenção atribuída de forma completa. Apenas aqueles que indicarem ter realizado e completado todos os instrumentos (pré e pós-teste) serão incluídos nas análises. Após finalizadas as etapas, os participantes receberão feedback individualizado sobre suas pontuações no VIA-IS-120, na PGCMS-Br, na ESV e na GDS-15.

Etapa 3
Participantes
Participarão deste estudo quase-experimental aproximadamente 60 idosos residentes no DF ou entorno, com idade igual ou superior a 60 anos. Eles serão recrutados no Centro Integrado Ambulatorial da UCB.
O aspecto etário, o encaminhamento médico e a residência no DF ou entorno serão os critérios de inclusão adotados. Constituem critérios de exclusão ser analfabeto, apresentar declínio cognitivo, morbidades psiquiátricas não controladas e/ou dificuldade auditiva severa. Tais critérios foram adotados para se evitarem vieses, como aqueles decorrentes da dificuldade de compreender as questões das escalas e a participação na intervenção.

Instrumentos
Para avaliar os critérios de exclusão mencionados, será utilizado um questionário com informações sociodemográficas (p. ex., idade, escolaridade, situação conjugal, dificuldade auditiva etc.) e o Miniexame do Estado Mental (MEEM) (BRUCKI et al., 2003). O MEEM é um instrumento de rastreio de comprometimento cognitivo composto por 30 itens que avaliam, dentre outros domínios, orientação espacial e temporal e memória imediata. Para cada item, a pontuação é zero (erro) ou um (acerto), sendo 30 a pontuação máxima do instrumento. Serão utilizados os pontos de corte sugeridos por Brucki et al. (2003). O alfa de Cronbach do MEEM é 0,71 (LOURENÇO et al., 2008). Outras informações sobre suas propriedades psicométricas (p. ex., evidências de validade de critério e fidedignidade) podem ser encontradas em Lourenço e Veras (2006).
Para os participantes que atenderem aos critérios de inclusão e não exclusão, serão aplicados os quatro instrumentos utilizados na Etapa 2, isto é, VIA-IS-120 (VIA INSTITUTE ON CHARACTER, 2013), PGCMS-Br (FREITAS et al., 2016), ESV (GOUVEIA et al., 2005) e GDS-15 (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999). Além deles também será utilizado o TCLE, elaborado com base nas Resoluções 466/12 e 510/16.

Procedimento
Profissionais do Centro Integrado Ambulatorial da UCB, como médicos, fisioterapeutas e enfermeiros, que fazem parte da equipe de pesquisa deste projeto, serão contatados e informados acerca do início do estudo, relembrados de seus objetivos e outras informações necessárias. A partir disso, eles farão encaminhamentos de pacientes idosos que apresentarem sintomatologia depressiva para participarem da investigação. Cada idoso encaminhado será convidado a participar do estudo e, concordando e assinando o TCLE, será avaliado individualmente (questionário demográfico e MEEM) para análise dos critérios de inclusão e exclusão.
Aqueles que forem incluídos no estudo preencherão a PGCMS-Br, a GDS-15, a ESV e o VIA-IS-120, ou seja, será realizado o pré-teste. Em seguida, os idosos ambulatoriais serão sorteados para comporem um dos dois grupos experimentais ou o grupo controle (Figura 2). Cada grupo experimental será composto por 15 idosos que serão submetidos à Educafi. Esclarece-se que para a implantação da Educafi, é recomendada a formação de grupos do tipo orientação e/ou treinamento (FREITAS et al., 2021b), uma das modalidades que se destaca na literatura em TCC em grupo (NEUFELD et al., 2017). Essa modalidade contempla o uso de estratégias psicoeducacionais e atividades práticas a fim de que, por meio de orientação e treinamento, os participantes possam atingir mudanças cognitivas, comportamentais e emocionais. Nessa modalidade os grupos são caracteristicamente fechados, não ultrapassando 15 participantes, e têm duração superior a oito sessões (NEUFELD et al., 2017).
A Educafi tem duração de 12 encontros, de 90 minutos cada, perfazendo um total de 18 horas. Será realizada na UCB, em sala de aula comum ou em sala do Centro Integrado Ambulatorial, desde que conte com acessibilidade para idosos, seja confortável e assegure sigilo e privacidade durante o encontro.
Quanto ao grupo controle, formado por 30 idosos, esclarece-se que seus integrantes não participarão de qualquer atividade. Ao término da intervenção será efetuado o pós-teste com todos os participantes, quando serão reaplicados os instrumentos utilizados no pré-teste e o MEEM.

Intervenção
A intervenção desenvolvida na Etapa 3 tem como base a Educafi (FREITAS et al., 2021b), que engloba princípios da PP, especialmente FC, e da TCC em Grupo. No que se refere à TCC, sabe-se que se trata de uma abordagem (1) ativa, isto é, terapeuta e cliente trabalham juntos, cooperativamente, (2) semiestruturada, ou seja, para todo o tratamento e para cada sessão há um tipo de esquema flexível, mas, organizado, e (3) limitada em relação ao tempo, o que significa que os clientes iniciam o tratamento com a perspectiva de que ele acabará (WENZEL, 2018). Seu objetivo central se alicerça, sinteticamente, sobre a reestruturação de pensamentos disfuncionais e a modificação de comportamentos negativos que contribuem para a psicopatologia e/ou sofrimento emocional excessivo, ampliando os recursos de enfrentamento do cliente (WENZEL, 2018). A TCC é uma das abordagens mais utilizadas com a população idosa (REBELO, 2007) e, não obstante o viés no “negativo”, isto é, no alívio de problemas de saúde mental e adaptação, sua práxis tem se mostrado exitosa quando se incorporam a identificação e a promoção de aspectos positivos, como exposto na Introdução (BANNINK, 2012).
No primeiro encontro será feito um contrato com os idosos, realizado o enquadramento, estabelecido um bom rapport e iniciada a psicoeducação sobre PP, FC e modelo cognitivo da TCC, ou seja, inter-relação entre pensamentos, sentimentos e comportamentos. O enfoque sobre as cinco FC que se associam tanto a escores mais elevados de BEP quanto a níveis mais baixos de sintomas de depressão em idosos, isto é, Amor, Esperança, Curiosidade, Perdão e Vitalidade (FREITAS, 2019), inicia-se no segundo encontro.
Reitera-se que a intervenção terá duração de 12 encontros, sendo um por semana. Excetuando-se o primeiro e o último, que têm suas especificidades, será adotada a seguinte estrutura em cada encontro: (1) Revisão do Plano de Ação, (2) Brainstorming, (3) Aprofundamento/Exploração, (4) Feedback, (5) Resumo e (6) Plano de Ação (FREITAS et al., 2021b).

Análise dos Dados
Tanto na Etapa 2 quanto na Etapa 3, os dados serão analisados por meio de estatística descritiva e inferencial. No último caso, será adotado um nível de significância de 0,05 por omissão. As médias e os desvios-padrão das FC, do BEP, da satisfação com a vida, dos sintomas depressivos e, no caso da Etapa 3, do status cognitivo serão calculados para os grupos. A partir das médias, serão realizadas análises de variância fatorial com tempo como fator de medidas repetidas e grupo como fator interparticipantes.

Resultados obtidos poderão:
a) Contribuir para o conhecimento do corpo discente e docente da área de saúde mental sobre os perfis de idosos que buscam por psicoterapia;
b) Aperfeiçoar os programas de ensino em psicologia a fim de que se tornem mais coerentes com a realidade atual, de idosos que buscam por psicoterapia, e os atendimentos nas clínicas-escolas de Instituições de Ensino Superior do DF;
c) Facilitar o conhecimento da percepção e atitude de idosos do DF sobre a participação em intervenções positivas online e autoadministradas;
d) Aprimorar o conhecimento acerca da relação entre FC e sintomas depressivos em idosos;
e) Promover melhora do BEP e da satisfação com a vida de idosos do DF;
f) Contribuir para a diminuição de sintomas depressivos em idosos da comunidade e ambulatoriais por meio de intervenções positivas, presenciais ou remotas;
g) Aprimorar o planejamento de ações de cuidado à saúde mental de idosos do DF, após a pandemia;
h) Despertar para a promoção de intervenções presenciais e autoadministradas online voltadas para aspectos positivos da velhice e para um envelhecimento ativo;
i) Permitir a apresentação dos resultados em congressos e outros eventos, nacionais e internacionais, bem como a publicação em revistas especializadas de forma a tornar acessível à comunidade científica os resultados obtidos; e
j) Favorecer o aprimoramento técnico e científico da equipe docente e discente envolvida na pesquisa.

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Equipe:
1 - CLAUDIA CRISTINA FUKUDA - Pesquisador Interno
2 - CLAYTON FRANCO MORAES - Pesquisador Interno
3 - EDUARDA REZENDE FREITAS - Pesquisador Interno
4 - GABRIEL REIS PIRES PEREIRA - Aluno
5 - GUSTAVO DE AZEVEDO CARVALHO - Pesquisador Interno
6 - JOANA PISKE DALMORO - Aluno
7 - KARLA HELENA COELHO VILACA E SILVA - Pesquisador Interno
8 - LUDMILA ROCHA COELHO - Aluno
9 - LUIZ SERGIO FERNANDES DE CARVALHO - Pesquisador Interno
10 - MARIA LIZ CUNHA DE OLIVEIRA - Pesquisador Interno
11 - TATIANE DE OLIVEIRA CAMPOS - Aluno
12 - VICENTE PAULO ALVES - Pesquisador Interno
Orçamento Aprovado:
BolsasR$ 16.200,00
Material de ConsumoR$ 400,00
Material PermanenteR$ 8.200,00
Serviço de TerceirosR$ 8.000,00
Valor TotalR$ 32.800,00