This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
Plataforma de Apoio a Gestão Estratégica - PAGE/UCB
Projeto: Cultura Pop e Sociedade Contemporânea no Distrito Federal
Coordenador(a): | CIRO INACIO MARCONDES |
Vigência: | 01/04/2023 a 30/03/2025 |
Situação: | Ativo |
Programa/Curso: | Mestrado Inovação em Comunicação e Economia Criativa |
Agência: | Fundação de Apoio a Pesquisa do Distrito Federal |
Edital: | FAPDF 09/2022 - Demanda Espontânea |
Chamada | Chamada Única |
Resumo:
Este projeto de pesquisa busca compreender como os fenômenos antes conhecidos como “indústria cultural” migraram para estruturas mais complexas hoje encaixadas dentro da ideia de “cultura pop”, que inclui grandes eventos transmídia (como a Comic Con Experience), histórias em quadrinhos, ídolos pop, filmes de ficção-científica, fantasia medieval e fantasia heroica, literatura de gênero, séries de TV, etc. A ideia é pensar estes fenômenos como contingentes a uma nova configuração das relações entre produtor-receptor de conteúdo e como estes temas se tornaram mainstream em uma cultura global. O foco principal será a produção no Distrito Federal dentro deste contexto em anos recentes e na contemporaneidade, sem descartar seu histórico e tendo as histórias em quadrinhos como carro-chefe destes fenômenos. A ideia de “indústria cultural” vem dos anos 1940, a partir de Adorno e Horkheimer, e predica uma nivelação dos gostos e da recepção da cultura a partir do momento em que ela passa a ser produzida para um público de massa e auxiliada por procedimentos de reprodutibilidade técnica. A noção de “midcult”, espécie de versão abastardada da cultura, equalizada para qualquer gosto e de limitada capacidade de expressão, tornou-se moda entre os seguidores da chamada Teoria Crítica ou Escola de Frankfurt. Era uma maneira de desqualificar um tipo de cultura que tinha como propósito reproduzir as estruturas de dominação e separação de classes inerentes à própria indústria, anestesiando a população com produtos homogêneos e assépticos, incapazes de sair de um mundo de clichês e modos de vida vendáveis. O cinema, a televisão, as histórias em quadrinhos e a música pop se tornaram, durante décadas, vítimas do caráter autoritário de alguns argumentos da teoria crítica. Diferentemente de Adorno e Horkheimer, Walter Benjamin (1996, pp.167-170) via na (ainda não conhecida como) cultura pop não necessariamente uma destruição e diminuição da “alta” cultura, mas sim uma reinvenção de paradigmas de produção estética e cultural. Mesmo assim, a noção geral sobre a ideia de Indústria Cultural ficou aprisionada em uma visão “apocalíptica”. Porém, por mais que as ideias frankfurtianas tenha perdurado por décadas, renovações nas tecnologias de comunicação, especialmente com a popularização da internet nos anos 1990, permitiram que outras formas de relação entre a produção industrial, “pop”, e seus receptores se instaurassem. Lentamente, percebeu-se que a massa que acessava estes produtos não era tão “ignara” e nem tão homogênea. Artistas que dialogavam com o popular e com o “pop” televisivo, como Alfred Hitchcock, Bob Dylan, David Bowie, Stan Lee, Rod Serling (entre tantos outros), passaram a ser vistos e lidos como agentes que promoviam os atos de interpretar, distribuir e desarranjar os padrões de culturas globais, e ao mesmo tempo continuar servindo à indústria. O cinema foi a primeira forma de expressão a ser reconhecida com esta ambivalência, a receber legitimidade. O prestigiado cineasta francês François Truffaut, que no fim dos anos 1950 ajudou a fundar o movimento da nouvelle vague, trazendo maturidade artística ao cinema, foi um dos que ressaltou que sempre existiu valor estético nos filmes americanos de estúdio, tecendo elogios a Hitchcock, Welles, John Ford e o cinema noir americano. Jacques Aumont (2004, p. 153) resume essa “política de autores”: Na política de autores, essa noção de autor – justificada, afinal de contas, sempre, pela escolha, pela lista, pela “política” – vê-se estendida à “personalidade”. A ideia é simples: existem, em arte (no cinema, no caso), personalidades criadoras dignas de interesse e de simpatia e outras que não são dignas ou não tanto. Uma vez reconhecidas essas personalidades – com base em critérios evidentemente sempre delicados de objetivar –, pode-se confiar completamente nelas; são totalidades indivisíveis e até seus erros aparentes não devem arranhar a fé em seu valor criador. Já as histórias em quadrinhos, cuja indústria se somou com tanta força ao cinema nas últimas duas décadas, ficaram aprisionadas ao estereótipo de cultura descartável e infantil, quando não completamente deletéria, durantes muitos anos. Isso foi resultado de uma “caça às bruxas” que se operou nos anos 1950 (nos EUA e depois no resto do mundo) graças: a) um aumento da delinquência juvenil no pós-guerra, algo muito mais ligado ao desemprego e ao estado de luto da nação após a morte de milhões de soldados e civis do que à leitura de simples gibis. b) um amadurecimento nos temas dos quadrinhos também após a Segunda Guerra, que passaram a se dedicar a temas como o horror, o crime, o romance, etc. Algo que assustou o establishment moralista norte-americano. E c) a publicação, em 1954, do livro Sedução do inocente, do psiquiatra Fredric Wertham, que identificou (sem muito método), em trechos de quadrinhos selecionados, sugestões (para ele reprováveis) de homossexualidade, desobediência civil, violência, etc. O pesquisador americano Bradford Wright define bem a situações de paranoia e perseguição a que as HQs foram submetidas desde sempre, o que provocou sua estigmatização: Histórias em quadrinhos eram um alvo fácil para aqueles que atribuíam delinquência juvenil a produtos de cultura jovem. Sendo a mais visível, menos censurada e mais popular expressão de entretenimento juvenil, a história em quadrinhos era também a mídia mais selvagem e alienígena à sensibilidade adulta. (WRIGHT, 2001, p. 88. Tradução nossa) O que foi dito sobre o cinema e os quadrinhos facilmente pode ser pensado também a outras formas de expressão “pop”, “mainstream”, “cultural juvenil” ou o nome que se queira dar a estes fenômenos: videogames, música rock, rap, reggae, séries de TV, reality shows, etc. A ideia deste projeto é pensar a visibilidade dessa produção a partir de conceitos mais novos, como os de “convergência” (Santaella, 2010), “cultura participativa” (Jenkins, 2006), “transmídia” (Massarolo, 2011) e “remediação” (Bolter; Grusin, 2000). A pesquisa envolve também a produção de uma temporada de vídeos para web em um formato contemporâneo (youtuber), a publicação de uma coletânea de textos teóricos em livro, uma coletânea em quadrinhos de artistas do DF e um pequeno evento de cultura pop na Universidade Católica de Brasília. Estes produtos serão coordenados e pensados conjuntamente com a equipe do projeto, composta por pesquisadores e estudantes fortemente envolvidos com o tema e interessados em desenvolver o circuito cultural “pop” do Distrito Federal partindo da cena de quadrinhos para depois chegar em outras formas de mídia e expressão. Os quadrinhos foram escolhidos como principal objeto da pesquisa graças ao forte crescimento da “cena” desta forma de comunicação no Distrito Federal nos últimos anos. Nos últimos 20 anos as HQs têm ganhado maior notoriedade pela maciça presença de “romances gráficos” (histórias longas e de conteúdo adulto) nas livrarias, em seções antes dedicadas apenas à literatura escrita. Autores de prestígio e premiados em grandes concursos literários (Art Spiegelman venceu o Pulitzer com sua obra “Maus”) fizeram com que a noção de que as HQs são “uma forma de arte de massas para crianças” perder fôlego. As obras de autores e autoras como Chris Ware, Charles Burns, Marjane Satrapi, Joe Sacco e Alison Bechdel são estudados em universidades e estão dentro dos ciclos da grande crítica literária. Além disso, os quadrinhos estão hoje intensamente ligados à produção em outras mídias, com adaptações literárias, radiofônicas e em videogames de seus personagens e histórias. Os exemplos abundam especialmente no Estados Unidos e no Japão. No Brasil, temos uma trajetória rica de produção em quadrinhos. Eles são publicados por aqui desde os anos 1860, com as séries do jornalista e cartunista ítalo-brasileiro Angelo Agostini. Entre os anos 1920 e 1950, tivemos forte presença do quadrinho infantil com “O Tico-Tico”. Entre os anos 1950-1970, os gêneros terror, ragional e erótico tiveram grande repercussão nas mãos de artistas como Colin, Shimamoto e Cortez. Entre os anos 1970 e 1990, nossa produção pendeu para o satírico, partindo de artistas como Henfil e Jaguar, até os contraventores Angeli e Laerte. Também marcamos presença na fantasia e ficção-científica com Mozart Couto e Watson Portela. Dos anos 90 para cá, nosso quadrinho se expandiu, conquistou as grandes editoras estrangeiras (Marvel e DC) e a Europa, e ampliamos nosso leque de opções: hoje, no Brasil, se faz quadrinho mainstream, mangá, erótico, de terror, indie, autobiográfico, filosófico, jornalístico, entre tantas outras variedades. Os quadrinhos no DF acompanharam esta trajetória praticamente a partir do momento em que a cidade começou a pulsar em vida cultural. Ainda nos anos 70, o renomado artista e quadrinista Jô Oliveira fundou na cidade a revista “Risco”, que se tornou marco em publicações nacionais. Nos anos 80, período da redemocratização, foi lançado em Brasília um hebdomadário em estilo francês parecido com “O Pasquim” (sátira política e cultural) chamado “Galhofa”, encabeçado pelo cartunista Joanfi, que reuniu boa parte da inteligência em cultura gráfica da cidade naquela época. Entre 86-96 foi publicado no jornal Correio Braziliense a tira “Eixinho, o Monumental”, de autoria de Humberto Junqueira, sobre um passarinho que reflete sobre as condições da capital. A partir dos anos 2000, porém, uma forte cena de produção de quadrinhos independentes tomou conta de Brasília, e esta produção tem demonstrado sólida continuidade especialmente no período entre 2008-2022, em que se destaca a arte gótica de Eduardo Belga, o non-sense de Gabriel Góes, a ativismo de LoveLove 6, as inflexões existenciais do coletivo Mês, a arte naïve de Taís Koshino, a poesia de Lucas Gehre, o humor de Caio Gomez, etc. Estes autores, muitos deles conhecidos nacionalmente, movimentam feiras de publicações, promovem eventos e festas de arrecadação, estão presentes em diversas coletâneas e publicações nacionais, e estão estabelecendo um importante diálogo geracional com o que ocorre, em produção de quadrinhos, também fora do DF. A ideia deste projeto é dar visibilidade a este fenômeno que existe em Brasília – historicamente e contemporaneamente. Não existe uma antologia que reúna o melhor que estes artistas já produziram e que unifique a história dos quadrinhos no DF em torno da própria identidade brasiliense, e é isso que pretendemos com a publicação em livro incluída no projeto. Adicionar ao projeto uma exposição com originais deste material e ao mesmo tempo uma feira para que estes quadrinhos possam ser comercializados é apenas consequência natural do objetivo de fortalecer esta cultura, tudo isso incluído dentro do evento de cultura pop previsto. |
Equipe:
Orçamento Aprovado:
Bolsas | R$ 19.200,00 |
Material Permanente | R$ 500,00 |
Serviço de Terceiros | R$ 25.300,00 |
Valor Total | R$ 45.000,00 |