Plataforma de Apoio a Gestão Estratégica - PAGE/UCB

Projeto: Plataformização do Trabalho e Mobilização Subjetiva
Coordenador(a): LEDA GONCALVES DE FREITAS
Vigência: 01/04/2023 a 31/08/2024
Situação: Ativo
Programa/Curso: Psicologia - Stricto Sensu
Agência: Universidade Católica de Brasília
Edital: UCB 054/2022
Chamada UCB 054/2022 - CHAMADA Pesquisa
Resumo:
O presente projeto de pesquisa dá continuidade à pesquisa “Trabalho e Mobilização Subjetiva” realizada pelo Laboratório de Pesquisa Trabalho, Sofrimento e Ação entre 2020 e 2022. A escuta realizada no laboratório com diversos trabalhadores teve, em sua maioria, a participação de trabalhadores de aplicativos de motoristas (carros, bicicletas e motos). Deste modo, surgiu a necessidade de aprofundar o pensar e agir de trabalhadores que ganham a vida, nas diversas plataformas, no atual contexto do trabalhar.

À vista disso, não obstante o atual contexto brasileiro do mundo do trabalho, compreendemos no âmbito do Laboratório de Trabalho, Pesquisa e Ação (LATRASA), que o trabalho se constitui de formas múltiplas e contraditórias. Assim, é socialmente e historicamente construído. Do ponto de vista ontológico, o trabalho nasce numa relação universal do homem com a natureza, logo, uma prática histórica uma vez que, ao realizar uma atividade consciente, os seres humanos criam a vida, se relacionam e superam a condição puramente biológica.

De acordo com Marx (1867/1969), no trabalho, homem e natureza se conectam e os humanos produzem ação com suas forças naturais com vistas à apropriação da natureza e, com isto, garantir a sua vida. O processo de trabalho para Marx, por meio da atividade humana, ocorre pela modificação de uma matéria com vistas ao um fim que satisfaz às necessidades humanas. Tem-se o trabalho útil, à medida em que o produto é um valor-de-uso. Desse modo, o ser humano coloca suas forças, sua energia vital com seus braços, pernas, mãos e cabeça e atua na natureza para acessar os recursos necessários à sua sobrevivência. Para Marx, esse processo permite ao ser humano não somente transformar os materiais que maneja, mas, mobiliza de maneira consciente as ideias que tinha antes de transformar os materiais, portanto é o pensar e fazer juntos na dinâmica do trabalhar. Consequentemente, trabalho para Marx é gasto de força humana com uma finalidade, sobretudo de trabalho útil e concreto.

Todavia, no capitalismo, o trabalho, de acordo com Marx (1867/1969) se configura numa relação de compra e venda da força de trabalho, na qual produz-se mais-valia e acumulação de capital. Desse modo, o contexto vigente do mundo do trabalho é de hiperexploração da força de trabalho, frente ao trabalho plataformizado Este, de acordo com Abílio (2020), transforma o trabalhador em uma pessoa disponível, o tempo todo, para o trabalho, ou seja, está ao dispor das demandas do capital.

De acordo com GROHMANN (2020), as diversas plataformas digitais são infraestruturas, que ao mesmo tempo, são meios de produção e de comunicação. Portanto, são utilizadas para trabalhar e para interação. Com lógicas algorítmicas, dataficadas e financeizadas, as plataformas digitais sugam, ainda mais o valor do trabalho. Portanto, tem-se mais precarização da força de trabalho.

Tendo como chefe um aplicativo, o celular está o tempo inteiro nas mãos dos trabalhadores. Assim, na era do trabalho mediado por aplicativos, as dinâmicas algorítmicas impõem um controle sútil sobre a força de trabalho. Para o filósofo Han (2018), esse controle é denominado de psicopolítica. Para o autor, no capitalismo neoliberal,a coerção muda da exploração externa para a exploração interna. Desse modo, as pessoas tornam-se empreendedoras de si, não tendo mais um poder externo para direcionar as lutas. Portanto, a repressão não vem de foram, mas da exploração de si. Deste modo, o contexto do capitalismo neoliberal, de produção imaterial, segundo Han, produz um poder inteligente que atua como a serpente. De forma silenciosa, as pessoas inconscientemente são assujeitadas ao sentirem-se livres e subjugadas de um certo modo, por si mesmas, já que não tem um patrão e horários de trabalho definidos, por exemplo.

Para Han (2018) esse poder inteligente, a psicopolítica, trabalha com emoções positivas. Assim, a emoção é explorada, as pessoas não refletem, pois há um sentimento de liberdade, o qual as levam a se renderem à sedução do sistema. O sentir-se livre de imposições dos outros, produz um ser humano servo apenas de sim. Para o autor, a luta de classes é transformada em empreendedorismo. O poder psicopolítico atua na positividade, de forma inteligente e silenciosa. É um poder centrado no corpo e, por isso, explora as emoções que não leva ao pensamento. O corpo neoliberal é trabalhado o tempo todo para ser melhorado e ter bom desempenho. Por conseguinte, a psique torna-se força produtiva e técnicas para reprogramar os sujeitos, sem que estes percebam são produzidas o tempo todo.

A lógica do poder psicopolítico é possível pelas operações algorítmicas, as quais, modificam as formas de pensar, sentir e agir, uma vez que, a internet é dominada pelo fundamento da propaganda e da vida por dinheiro e lucros, como nos ensina o autor Han (2018). Para Antunes (2018), esse contexto traz o advento da expansão do “novo proletariado da era digital”, que trabalha cada dia mais de forma mais precária.

O impulsionamento das tecnologias de informação e comunicação (TICs), interliga o mundo do trabalho, cada vez mais, pelos celulares nas mais distintas modalidades de trabalho. Para Antunes (2018), esse profundo salto tecnológico no mundo produtivo intensifica os processos automatizados na cadeia de geração de valor, ampliando, portanto, o trabalho morto no maquinário digital. Assim, reduz-se o trabalho vivo e a produção é invadida cada vez mais pelo maquinário digital. A tese de Antunes é que, nessa nova fase do capitalismo financeirizado e mundializado em escala global, intensifica-se a precarização e informalidade do trabalho e a materialidade e imaterialidade são dispositivos essenciais tanto para manutenção quanto para a expansão da lei do valor.

O Laboratório de Trabalho, Sofrimento e ação (LATRASA) iniciou desde de 2017 a escuta do sofrimento no trabalho, a partir do projeto de esquisa “Trabalho, Mobilização Subjetiva” com a finalidade de construir um espaço coletivo para realização de escuta qualificada do sofrimento no trabalho e potencializar a mobilização subjetiva de trabalhadores advindos de diversos contextos de trabalho.

As escutas realizadas no âmbito do laboratório envolveram trabalhadores de aplicativos, professores, trabalhadores negros e trabalhadores de empresas privadas. A pesquisa “Trabalho e Mobilização Subjetiva” foi concluída e, neste momento, o livro está em processo de revisão para enviar para editora.

À vista disso, o presente projeto “Plataformização do Trabalho e Mobilização Subjetiva” continua a pesquisa “Trabalho e Mobilização Subjetiva” e amplia com o conhecimento construído no âmbito do LATRASA, no que diz respeito a escuta do política sofrimento, a qual tem como referências, os seguintes fundamentos:

1. Filosofia do Bem Viver (ACOSTA, 2016) quanto a tecer modos de vida que brotem uma racionalidade anticapitalista, a partir de princípios de reciprocidade, relacionalidade, complementaridade e solidariedade entre toda vida que habita o planeta;

2. A compreensão marxiana de práxis, a qual tem a ver com a ação que transforma, portanto, ação política, invenção humana do viver em seu contexto histórico (MARX & ENGELS, 2007);

3. A crítica de Spivak (2010) a uma prática científica que trata os participantes de pesquisas como subalternos silenciados, ou seja, objetos de conhecimento. Assim, nossa escuta política do sofrimento potencializa espaços de fala com vistas às pessoas que trabalham possam articular seus pensamentos e produzir ações frente a exploração capitalista;

4. A dimensão política em Arendt (2014), sobre a ação em conjunto, vida humana tramada de forma plural no pensar e agir coletivo. Por isso, é ação política, preservação da vida, construção de liberdade;

5. A ética dos afetos de Spinoza (2013) no sentido de construir um espaço de fala e escuta do sofrimento no trabalho que mobiliza o pensar, agir e sentir dos sujeitos trabalhadores, afim de perseverar a essência humana e mobilizar afetos de alegria, os quais produzem ideias adequadas e aumentam a potência de ser frente ao mundo real do trabalho.

Portanto, na era do sujeito do desempenho e performático, em que os trabalhadores estão, mais ainda, sujeitados à lógica do capital, faz-se necessário o LATRASA aprofundar os estudos sobre o trabalho plataformizado com vistas a atuar no pensamento e ação para não somente compreender as adversidades do mundo do trabalho e construir formas de enfrentar o que faz sofrer, e, também, efetivar uma escuta que cria valores e busque superar a cultura do capital.
Equipe:
1 - LEANDRO FREITAS OLIVEIRA - Pesquisador Interno
2 - LEDA GONCALVES DE FREITAS - Pesquisador Interno
Orçamento Aprovado:
Valor TotalR$ 0,00